Questão sobre Economia Afetiva de Jenkins

Questão: Discorra sobre o conceito de economia afetiva e como ele opera dentro da estrutura
de um reality show. Articule com os outros conceitos fundamentais para entendimento da teoria da convergência de Henry Jenkins: inteligência coletiva, cultura participativa e narrativa transmídia. Dê exemplos na sua resposta.

Vivemos a era da convergência. Smartphones, tablets e televisores se confundem nas prateleiras com funções semelhantes e promessas parecidas: tudo em um único aparelho. Henry Jenkins em seu livro Cultura da Convergência, afirma que estamos vivendo a era da convergência midiática hoje, pois há um cruzamento entre as mídias de massa e as mídias alternativas e elas são assistidas por múltiplos suportes. Jenkins discorre, ainda, sobre a economia afetiva e sua relação com os programas de Reality TV, mas para entender perfeitamente esse conceito, primeiramente devemos observar como o autor estrutura seu argumento.


Jenkins fundamenta o conceito de era da convergência em um tripé composto pelas bases: convergência midiática, inteligência coletiva e cultura participativa. Para o autor, a convergência não se fundamenta em avanços tecnológicos, mas sim que ela pode ser percebida na medida em que os consumidores individuais interagem socialmente com seus conteúdos preferidos, nas novas formas de consumo e nos usos das tecnologias contemporâneas (múltiplas plataformas possibilitam uma nova forma de se relacionar com os produtos).

Sobre inteligência coletiva, Jenkins refere-se a uma nova forma de consumo – não apenas de produtos midiáticos. Blogs, fóruns, comunidades virtuais, listas de discussão, fanfictions e outras formas de criação sobre um produto preexistente formariam, segundo o autor, uma rede (ou processo conjunto) de inteligência coletiva; esta, impossível de ser centralizada em um único indivíduo, por isso o seu lugar é no coletivo, compartilhado entre os consumidores de tal produto.

Já ao falar de cultura participativa, Henry Jenkins define o comportamento do consumidor contemporâneo como alguém que não se contenta mais em apenas assistir, ser um receptor passivo; o consumidor contemporâneo interage, cria e compartilha sua criação em um sistema coletivo.

Tendo em vista tais argumentos, podemos pensar no conceito de economia afetiva e em suas aplicações práticas no marketing e em programas de TV, principalmente os fundamentados em situações da vida real, ou como são conhecidos, Reality Shows. Segundo Jenkins economia afetiva é “entender os fundamentos emocionais da tomada de decisão do consumidor como uma força motriz por trás das decisões de audiência e de compra” (JENKINS, 2008, p. 94). Como economia afetiva podemos entender: um esforço para entender o que leva o consumidor a se envolver com tal produto e consumi-lo e usar esse conhecimento no planejamento estratégico da promoção ou do próprio conteúdo do produto. Simplificando, entende-se a necessidade emocional do consumidor e cria-se um produto para saciá-la.

Podemos observar a existência de diversos Reality Shows com pequenas diferenças entre si: Big Brother, A Fazenda, Troca de Famílias, Casa dos Artistas, America's Next Top Model, American Idol, Esquadrão da Moda, Extreme Makeover: Home Edition. Cada um deles focando em determinados apelos emocionais como a superexposição de pessoas não famosas; convivência de pessoas famosas e suas intimidades; valorização e reconhecimento da família; pessoas tentando alcançar o sucesso no meio artístico; transformação e restauração de famílias. Tais fatores aproximam o público do produto audiovisual por existir uma necessidade de consumir certas histórias “reais”.

Kevin Roberts, em seu livro Lovemarks: o Futuro Além das Marcas, explica o conceito de Lovemarks que nos ajuda a compreender o processo de consumo, familiarização e engajamento que fãs de Reality Shows. Segundo o autor, Lovermarks são casos de amor entre marca e consumidores e, por isso, são capazes de despertar o sentimento de “fidelidade além da razão” (p. 143). Se aceitarmos que boa parte das decisões de compra baseia-se nas emoções, Roberts (2005) afirma que as empresas devem investir em estratégias de marketing que promovam experiências multissensoriais e multimídia a fim de estabelecer maior conexão e identificação com os consumidores.

Nos Reality Shows essas experiências se dão de diversas maneiras como em serviços exclusivos para assinantes em sites/blogs oficiais, acesso à câmera exclusiva, bate papo via internet com os participantes do programa, acesso a brindes e produtos utilizados dentro do programa, além do envolvimento direto do público nas histórias dos programas seja por votação (em programas de confinamento como Big Brother) ou por participar diretamente na criação do programa – programas como Esquadrão da Moda e Extreme Makeover se baseiam em interferir na vida de pessoas comuns em cada episódio, ou seja, o espectador de hoje pode ser o participante de amanhã.

Outra estratégia importante – e que corrobora a economia afetiva – em Reality Shows é a presença massiva, e estimulada, de discussões sobre a personalidade e estratégias dos participantes dos programas. Tais debates ocorrem em redes sociais, blogs, sites, fóruns e “salas de bate papo” e são fundamentais para a aproximação dos novos fãs – eles encontram nesses espaços informações variadas e divergentes sobre os participantes do programa e, assim, possuem dados suficientes para se envolver emocionalmente e expressar suas opiniões sobre tal personalidade exemplificada em um ou outro participante – e a criação dos Lovemakers que serão os fãs mais ativos dessas comunidades.

Assim, podemos entender que, em se tratando de Reality Shows, os conceitos de economia afetiva (JENKINS, 2008) e Lovemakers (ROBERTS, 2005) estão conectados já que ambos dependem, diretamente, da participação do público durante a exibição; seja para entender os fundamentos emocionais dos mesmos e aplicá-los na formatação dos programas ou para propiciar maneiras do consumidor expressar sua “paixão”, engajamento e opiniões (o que será uma propaganda natural do referido programa).

Bibliografia:
JENKINS, Henry, Cultura da Convergência. São Paulo :Aleph, 2008
ROBERTS, Kevin. Lovemarks: o Futuro Além das Marcas. São Paulo: M. Books, 2005.

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