Novela como narrativa feminina
Heloisa Buarque inicia seu texto com uma
afirmação: “Durante muitos anos, no Brasil, não se questionou a
associação entre mulher e telenovela”. Essa afirmação nos dá
indícios de que a autora pretende fazer exatamente o oposto do que
foi dito, ou seja, pretende investigar e questionar o senso comum que
entende telenovelas como um produto feminino.
Associação de conteúdo com o público
feminino existe desde o surgimento das histórias seriadas dos
folhetins, mesmo esses sendo escritos e lidos por muitos homens. “É
comum, também, especialmente nas camadas mais populares, que apenas
algumas novelas – normalmente as exibidas depois do Jornal Nacional
– sejam consideradas programas relativamente legítimos para o
público masculino”. Heloisa afirma, ainda, que quando se trata de
novelas com temas políticos é mais fácil ter uma menor
feminilização. “Para Hamburger, nota-se aí o mesmo tipo de
associação entre feminino e esfera privada e masculino e esfera
pública discutido por vários autores16, que, por vezes, feminiliza
a própria cultura de massa.”.
Heloisa Buarque constata, através de
algumas entrevistas feitas com profissionais de criação e de
pesquisa que trabalham em agências de publicidade, que esses
profissionais também acreditam que o público das novelas seja o
feminino, apesar de reconhecerem a presença masculina,
principalmente em alguns horários específicos como o da novela
da 8.
O consumo é feminino
No meio publicitário e do marketing
o consumo está diretamente
ligado às mulheres, a ponto de chamar o consumidor de she.
Há uma relação muito próxima
entre o consumo e a mulher constatada nas entrevistas. Essa relação
é justificada pelo fato de ser a mulher o principal responsável
pela compras de produtos dentro de uma casa. Em geral, os homens só
se metem quando o custo do produto é muito elevado, todo o resto das
compras ainda é identificado como responsabilidade da mulher.
Percebe-se em alguns discursos o
reconhecimento de que em países mais modernos, mais avançados, essa
diferença de tarefas e consumo é menos acentuada e até nula. “Essa
noção se opõe a um país de valor arraigado (ou ainda machista e
atrasado, termos mencionados em algumas entrevistas), que seria a
situação do Brasil – contexto no qual todas essas profissionais
trabalham e afirmam que têm que seguir a tendência dominante aqui.”
Afirma que, para os profissionais de publicidade e marketing,
“a publicidade reflete as tendências sociais, mas não muda nem
influencia a sociedade.”.
Mesmo que os publicitários acreditem que
estão apenas reforçando os valores sociais já existentes, muitas
vezes, eles estão reforçando e construindo certas associações,
como entre o feminino e o consumo.
Associação que dá lucros
“A associação entre mulheres, consumo
e emoção é parcialmente responsável pelo sucesso comercial das
novelas, um programa pensado igualmente como feminino e que cria
identificações de ordem afetiva com seus espectadores.” A autora
reconhece que é difícil pensar em uma quebra na associação entre
a novela e o consumo feminino porque essa construção simbólica
reflete interesses comerciais.
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